Não
sei propriamente como começar. O "ficou tanto por dizer" soa demasiado
cliché, mas no entanto é uma dura verdade. Não sei o que dói mais, onde
dói mais, não sei atrás de não sei.
Em
vão tento procurar um sentido para tudo, mas tu deixaste-nos a rodopiar
indefinidamente num tempo ao qual já não pertences. Custa ver-te como
algo que já não é. Ainda estás aqui e ainda sinto o calor dos teus
argumentos a batalharem contra os meus em conversas longas de café ou de
sofá. Ou o simples soar de uma gargalhada tua enquanto víamos algo
sentido num fim de tarde de Inverno.
É estranho no entanto conseguir escrever sobre ti no passado, quando tudo o que foste e és ainda me está tão à flor da pele.
Por
vezes penso no que te diria se te pudesse voltar a ver mais uma vez, só
mais uma. Que lamento aquela volta de 2CV que nunca chegou a acontecer?
Ou as vezes que prometi telefonar e algo do meu patético quotidiano
teve prioridade?
Pergunto-me
o que teria mais significado para ti: desculpar-me por tudo em que te
falhei ou agradecer-te pelo que sempre fizeste por mim? Cada dia que
passa a quantidade de "obrigados" que ficou subentendida torna-se um
bocadinho mais insuportável. Quase mais que a tua ausência.
Isto vai soar como um mau romance de adolescentes, mas tomei-te como
garantida e perdi-te. Isso é coisa de amores impulsivos e ainda por
maturar, não de vida, não de amizade. Mas a verdade é que sempre pensei
que ias estar ali, por mais distante que eu estivesse.
Só
para que saibas ainda guardo o rótulo do vinho Donna Carlotta,
voltando às coisas que te diria. São tantas e acho que por um lado é bom
que assim seja, que não te volte a ver, haveria sempre de me esquecer
de algo e massacrar-me mais um par de semanas por isso.
Tu tens o defeito de me fazer voltar a mim. A um eu do qual desisti ou simplesmente decidi esquecer que alguma vez existiu.
Lembras-te
com a fotografia? Era um desses casos, provavelmente mais de
desistência do que outra coisa. Foi uma paixão e como todas as grandes
paixões de adolescente, foi intensa, vivida ao máximo, mas curta. Foste o
primeiro anos após este desistir de mim, a me dizer que afinal valia
mais do que pensava, que este amor era bom de alimentar. Com a tua
ajuda, escolhi algumas fotos e concorri a um livro de fotografia, só
para ver se tinhas razão e tinhas. Aliás, tens sempre. E desde aí passou
a fazer parte de mim e não algo que poderia ter sido.
E
agora, um ano depois da última vez que aqui estive, fazes-me novamente
querer escrever. Este despejar de tudo o que me faz saltar uma pulsação
ou respiração. Este eu que há muito ignorei.
Talvez
um dia consiga exprimir o quanto te devo, o quanto desejava que o
soubesses. Mas não te preocupes, vou continuar a escrever-te. Nem que
seja por um pouco de conforto de alma...
Um mimo,
C.